Saudar o Deus Sol (sabedoria) é muito mais do que seguir uma seqüência de posturas físicas com ritmo e fluidez. É um desafio revelador quando praticado dentro da filosofia de vinyasa krama - cada passo realizado de forma consciente. Como diz Pedro Kupfer, “você deve estar consciente de que Sávitri é a inteligência que está por trás do Sol e de toda a criação, a fonte de todas as formas de vida, e de que é a mesma inteligência que anima o seu corpo e graças à qual você existe”.
O Yoga é um conhecimento tão profundo que a disciplina é fundamental para estudá-lo, para se chegar à consciência da União contida na palavra sânscrita “yug”, que significa comungar, unir, ligar o homem à sua própria e íntima realidade.
Essa disciplina, que tem origem na mesma raiz da palavra discípulo, é a capacidade de aprender, de saber, de se entregar ao conhecimento. Ou seja, a capacidade de ser em cada uma das posturas do hatha yoga. Quando começamos a meditar em cada postura, estamos começando a desenvolver a capacidade de “ser”.
O grande mestre do hatha yoga, Krishnamacharya, escreveu vários trabalhos e em um deles, o Yoganjalisaram, deixa claro que o yoga é um meio para resolver problemas físicos, mentais e espirituais e o caminho que conduz à compreensão de Deus. “Repousa no eterno, enquanto praticas teu asana – regulando sua respiração pelo pranayama, medita no eternamente compassivo que habita seu Coração” (Sloka 2 do Yoganjalisaram).
Na prática de Surya Namaskar, a consciência e a disciplina são os caminhos para a transformação. “Shiva, na qualidade de Nata-Raja ou “Senhor da Dança”, cria perpetuamente, com o seu dançar, os ritmos do universo – os ciclos da criação (sarga) e destruição (pralaya). É o mestre tecelão do espaço e do tempo” (Feuerstein, 1998).
A característica central da natureza da filosofia hindu é que ela se manifesta em incontáveis formas que assumem sua existência e se desintegram, transformando-se em outras formas, num processo sem fim. Em seu aspecto fenomenal, a unidade cósmica é dinâmica. A ênfase está no movimento, no fluxo, na mudança. Segundo a sabedoria hinduísta, “um ser iluminado é aquele que não resiste ao fluxo da vida, mas permanece em movimento com ele”.
Ao movimento contínuo ele opõe sua posição estática, a imobilidade do asana; à respiração agitada, arrítmica, multiforme, opõe o pranayama e almeja conseguir a retenção total do sopro; ao fluxo caótico da vida psicomental, responde com a “fixação do pensamento em um só ponto” (Feuerstein).
A Saudação ao Sol é exatamente esta dinâmica, um fluxo contínuo, em que uma postura se forma e se desintegra dando forma a uma nova, num ciclo contínuo e fluido. Existe a sincronia do movimento com a respiração (ujjayi pranayama), associado ao foco do olhar (dristis) e as contrações (mula bandha e ujiyana bandha), com o objetivo de trazer clareza mental, de libertar-se de padrões - emoções e pensamentos, de obter leveza e contentamento - abrindo canal para escutar o coração.
Além disso, sua prática constante melhora a saúde, fortalece o corpo, aumenta a imunidade, melhora a auto-estima, entre outros benefícios, pois estimula os sistemas endócrino, circulatório, respiratório, levando o praticante a conhecer suas potencialidades.
Clique aqui para saber mais sobre a prática da Saudação ao Sol.
Fontes:
FEUERSTEIN, G.: A Tradição do Yoga.
DESIKACHAR, T. K. V.: O Coração do Yoga.
KUPFER, Pedro: Yoga Prático.
Comentários
Postar um comentário
Om. Shanti, Shanti, Shanti.