Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontem...
Não queiras ser o de amanhã.
Fazê-te sem limite no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabe que serás assim pra sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue...
É a passagem que se continua.
É a tua eternidade...
E a eternidade.
És tu.
Adormece o teu corpo com a música da vida.
Encanta-te.
Esquece-te.
Tem por volúpia a dispersão.
Não queiras ser tu.
Quere ser a alma infinita de tudo.
Troca o teu curto sonho humano
Pelo sonho imortal.
O único.
Vence a miséria de ter medo.
Troca-te pelo Desconhecido.
Não vês, então, que ele é maior?
Não vês que ele não tem fim?
Não vês que ele és tu mesmo?
Tu que andas esquecido de ti?
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz.
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existem.
Todas as coisas esperarão por ti.
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
Não queira ser.
Não ambiciones.
Não marques limites ao teu caminho.
A Eternidade é muito longa.
E dentro dela tu te moves, eterno.
Sê o que vem e o que vai.
Sem forma.
Sem termo.
Como uma grande luz difusa.
Filha de nenhum sol.
Cecília Meireles
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Om. Shanti, Shanti, Shanti.